quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Será que o meu raciocínio, que já não era muito bom, acabou de vez ?
O que tem a ver esse cara, o Ben Johnson, com o uso do Winstrol ? 
Será que é só por causa do seu banimento dos rankings do atletismo, por causa do uso de esteróides ? Calma, gente, calma. Vamos ler o artigo, e depois, se vocês acharem que eu mereço, abandono a musculação, e trato de mudar de esporte, jogar peteca ou golfe talvez.

DUELO DE TITÃS
Olimpíadas de 1984, Los Angeles, EUATodo a imprensa esportiva ligada em um atleta em especial: Carl Lewis,, então com apenas 23 anos. Lewis vinha de uma série de vitórias espetaculares em meetings de atletismo internacionais, o que o levou a ganhar o apelido de "filho do vento". E nesses jogos olímpicos, a pretensão de Lewis estava muito longe de ser modesta, ele queria, simplesmente, igualar o incrível recorde de Jesse Owens, que era vencer em todas a provas clássicas de velocidade: o revezamento 4 X 100, os 200 metros, e a competição mais importante dos jogos, os 100 metros. E foi exatamente o que aconteceu, ele levou todas ! Assim, Frederick Carlton "Carl" Lewis entrava para o rol das lendas do esporte. Ok, e o que tem isso a ver ?
Pela lógica, Lewis, que havia conseguido esse feito incrível tão novo, deveria reinar supremo por alguns anos ainda, mas não seria assim tão fácil.
Um atleta canadense vinha sendo preparado para ser o novo fenômeno das pistas: Benjamin Sinclair Johnson, o Ben Johnson. Johnson começava a chamar a atenção de jornalistas especializados, e no ano de 1987, durante o World Championship in Athletics, Lewis e Johnson travariam um incrível duelo nos 100 metros. Lewis tentava baixar os 10 segundos, um objetivo lendário de todos os corredores, e quase conseguiu, terminando a prova em segundo lugar, com o índice de 10.03 segundos, perdendo para o então misterioso atleta do canadá, Ben Johnson, que vencera a competição com a fantástica marca de 9.83 segundos!
Antes de continuar, não custa lembrar aos leitores, principalmente aos mais jovens, que a velocidade da informação não era tão rápida como hoje, e que a internet ainda estava engatinhando, e quando as Olimpíadas de 1988, um ano depois, aconteceram, muita gente ainda não sabia quem era Ben Johnson. E outro detalhe interessante: é que seria um duelo entre Estados Unidos e Canadá. Só para termos uma idéia disso, sabem essas piadas que adoramos fazer com a "inteligência" dos portugueses ? A mesma coisa fazem os americanos com os canadenses. Mas vamos voltar ao artigo...
Olimpíadas de 1988, Seul, Korea.

Todos esperando a prova dos 100 metros. O que vai acontecer ? Vencem os EUA, ou vai dar Canadá ? Claro, todos já sabem como isso acaba. Vence o canadense, com a marca de 9.79 segundos ! E não precisa chorar porque você ainda era um bebê, e não sabia o que era televisão, vai no youtube que lá tem o vídeo -

- e vale a pena assistir, até para ver que Johnson não só quebrou o próprio recorde, de 1987, como humilhou seus adversários, olhando para o lado para ter certeza de que não havia ninguém por perto, e erguendo o braço apontando para o céu, mostrando que era o número um. Foi demais para os americanos.


GAROTO PROPAGANDA OU MAL ORIENTADO ?

Acabada a prova, todo mundo atrás de Johnson, e levam logo o cara pra fazer um xixi para o anti-dopping. Ninguém se preocupa, afinal, trata-se de uma prova clássica olímpica, e Johnson sabia que todas as atenções estariam voltadas para ele, porque se arriscar ? Claro que não vai dar em nada. Errado. Vem a bomba ! Ben Johnson correu dopado ! Tiraram a medalha, apagaram o novo índice oficial, e a vitória vai para as mãos de Carl Lewis.

E todo mundo esperando para saber que droga incrível tinha sido usada, capaz de colocar Johnson na frente dos melhores atletas do mundo. Foi identificada a substancia estanozolol, princípio ativo do esteróide comercializado pelo nome de Winstrol. Epa...peraí...um esteróide ?!
Naqueles anos eu já estudava o assunto, e já sabia dos ganhos de força e massa muscular causados pelos anabolizantes, mas para aumento de performance esportiva, isso para mim era novidade. Tudo bem, vale o argumento de que Johnson tinha uma vantagem pela musculatura mais desenvolvida das pernas, e que assim ficou a frente dos outros. Concordo. Mas se Johnson já tinha conseguido a musculatura, e o uso, puro e simples do esteróide não o faria correr mais rápido, porque arriscar uma carreira com o uso contínuo de uma substancia até o dia da competição, e que seria detectada no anti-dopping ? Isso levando em conta que o estanozolol, em forma oral, deixa de ser detectado após 10 ou 15 dias de uso, e na forma injetável, após, no máximo, 60 dias. E já existem pesquisadores que alegam que anabolizantes sem características androgênicas, e de base aquosa, como o Winstrol, não podem ser identificados após 48 horas da última aplicação. Sobram apenas duas explicações, e as duas tem em comum a ignorância.
A primeira é a de que seu técnico não sabia o que estava fazendo, e manteve seu pupilo usando a droga até a véspera dos jogos (essa eu não acredito), e a segunda é de que Johnson foi vítima de uma conspiração, e foi fácil culpar o Winstrol, já que ainda era uma droga relativamente desconhecida (essa eu acredito). O fato é que acabaram com a carreira do canadense, e os americanos recuperaram o prestígio de campeões das provas de velocidade.
Mas sabem o que acabou ficando mais engraçado ? Em 2003, um médico chamado Wade Exum, que havia dirigido o Comitê Olímpico dos Estados Unidos, de 1991 a 2000, resolveu abrir o bico para a revista Sports Illustrated, e entregou documentos que mostravam que cerca de 100 atletas americanos não tinham condições de passar em exames anti-doppings, e que no ano de 1988, muitos foram pegos na Olimpíada de Seul, embora não tenham sido punidos. Entre eles, quem ? Quem ? Carl Lewis, é claro. E dessa vez, ao contrário do caso de Johnson, não se falou em esteróides, mas em estimulantes à base de efedrina e fenilpropanolamina.


E qual a consequência de tudo isso para os fisiculturistas ? Simples.
Quando Ben Johnson apareceu na mídia, uma das coisas que mais chamou a atenção era seu físico. Claro, não era um fisiculturista, mas estava muito acima de seus adversários, com muito mais volume e definição, longe da magreza tradicional desse tipo de atleta. E não precisamos esquentar muita nossas cabeças para deduzir o que todo mundo pensou "foi o Winstrol". Nunca um anabolizante havia conquistado tanto espaço na mídia, e no mundo todo. E se os médicos envolvidos com anti-doppings achavam que estavam fazendo o bem, divulgando o nome da droga usada pelo velocista, descobriram rápido a tremenda burrice que fizeram. Foi uma corrida em busca do esteróide, afinal, tinha sido usado por um atleta olímpico, e com um físico fantástico para os padrões da época. O que a maioria não se tocou, é que não se tratava de um fisiculturista, mas sim de um corredor, que obviamente não usava a mesma dieta hipercalórica dos bodybuilders, e essas eram as razões de Johnson não ter um grande acúmulo de gordura, sem levar em conta a intensidade do treinamento desse tipo de atleta. Mas era tarde, o estrago estava feito. Começava a lenda: Winstrol seca !
E depois dessa Olimpíada, o mundo dos levantadores de pesos, usuários de anabolizantes, seria virado de cabeça para baixo. Ninguém queria mais saber das testosteronas, Dianabol ou Nandrolonas, o quente era o Winstrol, afinal, com isso você conseguia "crescer seco". Não demoraram para os experts, querendo mostrar que estavam antenados com as mudanças, começassem a e elaborar as mais incríveis teorias sobre milagrosas combinações de esteróides, com o objetivo de dar um grande ganho de massa muscular, mas aumentando a definição do esportista ao mesmo tempo. E essa talvez tenha sido a pior contribuição que esses estudiosos possam ter dado ao mundo esportivo. Muito mais honesto se tivessem assumido que não conheciam o real potencial da droga, estudassem, aprendessem, e depois mostrassem suas conclusões. Mas como ninguém teve coragem de se expor, e todos queriam mesmo era faturar uma grana em cima do pessoal que estava louco para tentar a última palavra em anabolizantes, tome Winstrol. E, infelizmente, essa crença errônea sobre a ação desse esteróide persisti até os dias de hoje, já que ainda são poucos os que levantam dúvidas sobre os efeitos verdadeiros do estanozolol.
Na próxima edição, a conclusão desse artigo, com detalhes sobre o estanozolol, as dosagens, as marcas, os ciclos.
Será que os fisiculturistas usam mesmo esse esteróide ? Quais os perigos para a saúde ? E quais as chances de se comprar falsificado ? Todas as respostas sobre os mitos que cercam essa anabolizante respondidas nas próximas edições do Treino Pesado.

Fred Azevedo

Extraído de http://www.treinopesado.com.br/index.php?idArticle=220

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